“I HAVE LOVED YOU”: THE PROVIDENT EMBRACE

by Andrei Thomaz Oss-Emer

text in English and Portuguese
texto em inglês e português

The apostolic exhortation Dilexi te, on the love for the poor, signed by His Holiness Pope Leo XIV on the Feast of St. Francis, came to us as a great joy for many reasons — especially existential ones — since it is addressed to the beloved of the Lord Jesus Christ, the poor, and because love for the poor is born from an encounter with Christ.

Brother Marcelo Barros, OSB, thanked the Pope for the publication of the apostolic exhortation, affirming: “Society always finds ways to maintain unjust inequalities; it is necessary to help the poor, because among you (and this is an accusation), there will always be people who are impoverished” (Dt 15:11). The reminder that the exploited and marginalized are loved by the Lord is an invitation to identify, understand, and help dismantle the unjust structures that prevent living a good and dignified life, understood as the free flourishing of the human person.

Love for the poor is thus an invitation to overcome misery and the systems that sustain inequality. Even after two millennia of human progress, in an age marked by the globalization of every technology, Jesus’ words still resonate: there continue to exist many forms of poverty. Dilexi te also stands as a legacy of the late Pope Francis, embraced by his successor Pope Leo XIV, representing continuity in the Church’s social magisterium — an invitation to incarnate love through the care of people, following the example of the many witnesses of holiness throughout the Church’s history who lived the Gospel through love in action.

The exhortation is, therefore, an evangelical synthesis of the Church’s social teaching through an ecclesiology of care — care for people as a means to overcome poverty and to realize among us the project of Jesus: the Kingdom of God.

The Economy of Francesco invites us to look at the life of the Brother from Assisi as a challenging paradigm — one that both unsettles and commits us — as we recognize the depth and intensity with which St. Francis of Assisi loved the poor. He became “an icon of a spiritual springtime,” sending his brothers into the world with nothing, “as pilgrims and strangers who in this world serve the Lord in poverty and humility” (DT 64). He founded an evangelical fraternity whose mission was to be with them — with values of solidarity, closeness, equality, and minority, in the image of Christ.

His encounter with the lepers awakened in him a profound existential change in his way of feeling and living: what had once been bitter became sweet. This conversion reoriented his entire way of life — he became poor among the poor, and remained faithful to this choice until the end of his life, when he embraced the crucified poor one of La Verna.

Of St. Clare of Assisi, Pope Leo XIV recalls her tireless perseverance in the privilege of poverty, which “expressed total trust in God and the awareness that voluntary poverty was both a form of freedom and prophecy” (DT 65), embracing Christ as her only inheritance. Her “prayerful and hidden life” became “a cry against worldliness,” a light that awakens sleeping hearts.

The letter is also a testament of love, so that in the Church’s social action we may witness that to love Christ is to love people — as a provident embrace from the God who always cares.

In paragraphs 80 and 81, Dilexi te recalls the work of popular movements — self-organized collectives under the paradigm of an ecology of the poor — presenting a methodology that is also meaningful for The Economy of Francesco. These movements justify their existence in response to real and material needs that lead people to mobilize and, by walking together, awaken in one another a shared consciousness of existence.

It is also an invitation to follow Jesus of Nazareth — the carpenter, the peasant — who was born, lived, and died poor in material goods, and who rose again to enrich us with the spiritual abundance of his divine life. He invites us to recognize that every life has value and that all forms of life are precious in God’s eyes.

The exhortation evokes the Gospel words, “Look at the birds of the air and the lilies of the field” (Mt 6:25–34), calling us to walk beside those who are despised and forgotten by history, and to see in their suffering also the seeds of their joy.

When we see people with the courage to rebuild their lives amid the rubble of war, we begin to understand St. Francis’s Allegory of Perfect Joy — finding reasons to smile beyond the deepest pain, discovering certainties that help one rise after a fall, and courage to speak serene and truthful words, even in simplicity.

It is also an invitation to discern our own local paths of action, as is already happening in the Amazon, in Brazil. I recall here the witness of the Casa Amazônica de Francisco e Clara (Amazon House of Francis and Clare) in Manaus, which accompanies young people from the Amazon region in caring for our common home. The initiative is led by Sister Elis dos Santos, of the Divine Providence congregation, a native of the Amazon who met with us and Pope Francis in Assisi in 2022. After contributing to the national organization of the Economia de Francisco e Clara in Brazil, she returned to her homeland of Manaus with the support of Cardinal Leonardo Steiner, to develop this Church-based socio-environmental project — a space for caring for our common home, practicing new, fraternal and solidarity-based economies, and helping young people find meaning in their studies and work.

Dilexi te is, ultimately, a call to love fully — a genuine and incarnate love that disarms any form of self-interest and stands only on the justice of the Kingdom of God, as the fullness of grace and participation in the mystery of love unfolding in history.

It opens the doors and heart of the Church so that all people may find a place within her — and that through the way we love the world, all may encounter the provident embrace of God-Love, who always cares.


“EU TE AMEI”: O ABRAÇO PROVIDENTE

A exortação apostólica Dilexi te, sobre o amor aos pobres, assinada por Sua Santidade o Papa Leão XIV no dia de São Francisco, chegou-nos como uma grande alegria, por muitos motivos, especialmente existenciais, já que destina-se aos amados do Senhor Jesus Cristo, os pobres, e o amor aos pobres nasce do encontro com Cristo. O irmão Marcelo Barros OSB, agradeceu ao Papa pela publicação da exortação apostólica, afirmando: “a sociedade sempre encontra formas de manter as desigualdades injustas, é preciso ajudar os pobres, porque entre vós (e isso é uma acusação), sempre haverá gente empobrecida” (Dt 15, 11). A lembrança de que os espoliados e marginalizados são amados pelo Senhor, é um convite a identificar, compreender e ajudar a desfazer as estruturas injustas que impedem o bem viver, que é o livre florescimento humano. O amor aos pobres é um convite à superação da miséria e das estruturas que ainda mantém as desigualdades, ao que permanece a Palavra de Jesus, depois de dois milênios de avanços, na era da globalização de todas as tecnologias, ainda subsistem diferentes tipos de pobreza. A Exortação Dilexi te é também um legado do saudoso Papa Francisco, assumido pelo seu sucessor Papa Leão XIV e representa a continuidade do magistério social da Igreja, como um convite à encarnação, através do cuidado das pessoas, à semelhança do que os diversos exemplos de santidade da história da Igreja realizaram, como uma forma de vivência do amor evangélico. A exortação é uma síntese evangélica do ensino social da Igreja através de uma eclesiologia do cuidado com as pessoas, como uma forma de superação da pobreza e realização do projeto de Jesus entre nós, o Reino de Deus.

A Economia de Francisco nos convida a olhar para o paradigma da vida do irmão de Assis como um desafio que nos assusta ao mesmo tempo que compromete, ao reconhecermos o modo e a intensidade com que São Francisco de Assis amou os pobres, tornando-se “ícone de uma primavera espiritual”, irmãos enviados ao mundo sem nada possuir, “como peregrinos e viandantes que neste mundo servem ao Senhor em pobreza e humildade” (DT 64). Ele fundou uma fraternidade evangélica cuja missão era “estar com eles”, com valores de solidariedade, proximidade, igualdade, e minoridade, a exemplo de Cristo. O encontro com os leprosos despertou-lhe uma mudança existencial dos critérios do sentir e do viver: o que antes era amargo se torna doce. Uma mudança que lhe compromete o jeito de viver, torna-se um pobre com aqueles pobres, e sustenta essa escolha até o final da sua vida, quando abraça definitivamente o pobre crucificado de La Verna. De Santa Clara de Assis o Papa Leão XIV recorda a incansável persistência no privilégio da pobreza que “expressava a confiança total em Deus, e a consciência de que a pobreza voluntária era forma de liberdade e profecia” (DT 65), abraçando Cristo como única herança, em uma vida “orante e escondida”, que tornou-se um “grito contra o mundanismo”, uma luz a despertar os corações adormecidos. A carta é também um testamento de amor, para que na Ação Social da Igreja, possamos testemunhar que amamos a Cristo, amando às pessoas, como um abraço do Deus providente.

Em seus parágrafos 80 e 81 a Dilexi te recorda o trabalho dos movimentos populares, um conjunto de coletivos auto organizados, sob o paradigma de um ecologismo dos pobres, que apresentam uma metodologia válida também para a The Economy of Francesco, quando justificam sua existência enquanto movimentos populares, das necessidades materiais e reais que levam as pessoas a movimentarem-se, e ao caminharem juntas, despertar-se mutuamente a consciência mútua do existir. É também um convite a seguir o Jesus de Nazaré, carpinteiro, camponês, que nasceu, viveu e morreu pobre de bens materiais, que ressuscitou para enriquecer-nos com toda a riqueza espiritual de sua vida divina, que nos convida a reconhecer que todas as vidas têm valor, e que todas as formas de vida são preciosas aos olhos de Deus.

A exortação suscita as palavras evangélicas “olhai as aves do céu e os lírios do campo” (Mt 6,25-34), convidando a caminhar ao lado daquelas e daqueles que são os desprezados da história, os esquecidos, e ver nas suas dores também os motivos de suas alegrias. Quando vemos pessoas com a coragem de recomeçar suas vidas embora estejam em meio aos escombros das guerras, podemos entender a Alegoria da verdadeira e perfeita alegria sob a perspectiva de Francisco, nos motivos que fazem sorrir para além da dor mais aguda, nas certezas que ajudam a reerguer-se depois da queda, na coragem de dizer palavras serenas e assertivas, mesmo na simplicidade. É também um convite ao discernimento de nossos caminhos de iniciativas locais, como já acontece na Amazônia, e cito aqui o testemunho da Casa Amazônica de Francisco e Clara em Manaus, que já acompanha juventudes do território amazônico a cuidar da casa comum. Organizada por Irmã Elis dos Santos, da Divina Providência, amazonense, que encontrou conosco e com o Papa Francisco em Assis em 2022, participou da organização da Economia de Francisco e Clara a nível nacional, depois volta à sua terra natal Manaus, com o apoio do Dom Leonardo Cardeal Steiner, como um projeto socioambiental a nível eclesial, de cuidado com a casa comum, de prática de novas economias, solidárias e fraternas, e de formação de juventudes para o sentido de seus estudos e trabalhos.

A Dilexi te é um convite a amar plenamente, um amor genuíno e encarnado que confunda qualquer tipo de autointeresse que pretenda justificar inadequadamente outras razões, que não sejam aquelas razões da justiça do Reino de Deus, como plenitude da graça e da participação do mistério do amor que se realiza na história. É uma abertura às portas e ao coração da Igreja, para que nela caibam todas as pessoas do mundo, e que todos encontrem pelo nosso modo de amar o mundo, um abraço providente, de Deus-Amor que sempre cuida.

Andrei Thomaz Oss-Emer, Pelotas, 15 de outubro de 2025.